Interlínea é uma obra site-specific que se insere no contexto de um monocultivo de pastagem, transformando o próprio campo produtivo em suporte e conteúdo da intervenção. O trabalho consistiu em criar uma linha extremamente demarcada no interior de um plantio de pastagem tecnificada com 8000m² — uma ruptura gráfica e material que atravessa a homogeneidade do campo. O próprio nome do projeto faz alusão às entrelinhas, ao que se insinua ou emerge nos vazios e nas fissuras da paisagem controlada.

​

Para realizar a intervenção, foram utilizados maquinários agrícolas equipados com barra de pulverização e insumos químicos comuns ao manejo da pastagem. O traçado foi produzido com os mesmos dispositivos que mantêm a produtividade, mas aqui subvertidos para instaurar uma marca de corte e interrupção. Após o processo técnico, foi necessário aguardar o tempo de resposta do sistema vegetal até que a modificação se tornasse visível — um intervalo em que o solo e o próprio crescimento da planta revelaram gradualmente a interferência.

​

Ainda que o prejuízo causado à plantação tenha sido pontual e aparentemente irrisório do ponto de vista econômico, ele carrega um gesto crítico: evidencia as próprias brechas e contradições de um sistema agrícola baseado no uso intensivo de químicos e no controle artificial dos ciclos da terra. As imagens em fotografia e vídeo resultam desse processo, onde o gesto artístico tensiona a visualidade padronizada da monocultura e explicita as camadas invisíveis de desgaste, risco e esgotamento que sustentam as paisagens agrícolas contemporâneas.