Projeto Silo | 2019 - atual
Silo é uma proposta de instalação que tensiona os conflitos em torno da soberania alimentar, do monopólio genético e da autonomia dos territórios rurais. Pensado como um dispositivo expositivo e sonoro, o trabalho transforma a mesa em território de disputa. Sobre ela, sementes reais são dispostas em uma configuração que reflete a realidade das lavouras brasileiras: 94% das sementes são transgênicas, tingidas artificialmente de rosa, como se vê nos campos dominados pelo agronegócio; as outras 6% são sementes crioulas, preservadas por agricultores e comunidades que resistem à lógica dos pacotes tecnológicos.
Essa proporção, longe de ser neutra, transforma a superfície da mesa em um campo tenso, onde a abundância artificial das sementes industriais contrasta com a presença quase residual das crioulas. Pequenos fones de ouvido, posicionados junto à instalação, convidam o público à escuta. São relatos coletados junto ao Grupo Coletivo Triunfo, organização de agricultores e agricultoras da região de São João do Triunfo, no sudeste do Paraná, que preservam, cultivam e compartilham sementes tradicionais.
Suas vozes denunciam o desaparecimento de suas sementes crioulas, ameaçadas pela contaminação invisível que atravessa o ar. O vento, que deveria ser veículo de livre dispersão da vida, torna-se meio de propagação dos transgênicos, infiltrando-se nos campos e comprometendo o cultivo das variedades tradicionais.
O título faz alusão direta às estruturas de armazenamento de grãos, mas também convoca o gesto ancestral de guardar, proteger, trocar. Guardar o quê? Em tempos em que a autonomia sobre o cultivo é minada, guardar sementes é também guardar modos de vida, saberes e futuros possíveis.
*Três imagens que acompanham o projeto foram geradas por inteligência artificial, como forma de visualizar e antecipar a proposta expositiva antes de sua execução.




